domingo, 13 de março de 2011

Estranheza e partida

Mais uma crônica da vida disfarçada de comentário sobre Fórmula-1...
Já disse, em algum lugar do passado, que o GP da Hungria de 2008, ou melhor, a largada para o GP da Hungria de 2008, foi o momento em que passei a torcer por Felipe Massa naquela temporada. E, ali - se me permitem uma digressão -, começou um dilema pessoal: como torcer por Massa e contra a Ferrari ao mesmo tempo?
Na ocasião, Felipe teve um início de prova estupendo: largava na terceira colocação, atrás das duas McLarens, com Lewis Hamilton na pole. Pulou muito bem e posicionou seu carro na linha de fora, fritou muita borracha na freada para a primeira curva e saiu à frente de Hamilton, na primeira posição:



A partir daí, o brasileiro fez uma sólida corrida na liderança, sem dar chance a ninguém. Hamilton teve problemas e acabou ficando para trás.
No entanto, a corrida perfeita do ferrarista não teria uma final feliz para ele. Faltando três voltas para a bandeirada, o motor o deixaria na mão e uma vitória linda, que parecia certa, tornou-se fumaça esbranquiçada.
É impossível reconstruir o que Felipe Massa sentiu e pensou ao caminhar de seu carro quebrado até os boxes naquele dia 3 de agosto de 2008. Não há dúvidas, todavia, que se tivesse feito uma largada normal, uma corrida média, a frustração teria sido muito menor. Deve ser uma sensação análoga a de um menino tímido, que se coloca atrás de algumas decisões ao longo de muito tempo, por princípio ou seja lá o que for, e percebe que não aproveitou tão bem seus tempos de escola. Imaginem que alguns anos depois, uns 7 anos, sei lá, o menino tem a chance de ver que sua vida poderia ter sido bem diferente. Mas, a chance dura poucas horas, a experiência desaparece como os grãos de areia somem do bulbo superior de uma ampulheta. Felipe Massa, como um menino tímido, pode ter se voltado para as forças superiores que governam nossas vidas e perguntado: "Para que isso? Para que a excelente largada, a corrida perfeita, se iria acabar desse jeito? Melhor seria ter deixado meu carro parado na volta de apresentação".
Certamente, ao longo das três semanas que transcorreram entre o GP da Hungria e o GP da Europa, em Valência, onde Massa fez as pazes com o número 1, o piloto conviveu com muitos fantasmas, como os dos GPs da Austrália, Malásia e Inglaterra daquele mesmo ano. Teve de reaprender a dar o passo a frente. Deve ter acordado em várias manhãs pensando naquela corrida que era dele, merecidamente, mas que não levou.
Felipe, hoje, deve ainda pensar que sua vida teria sido diferente se tivesse vencido e levado os pontos daquela corrida na Hungria. Talvez tivesse conquistado aquele campeonato. No entanto, vira-se a ampulheta, as areias voltam a escorrer de um bulbo para o outro e nunca param. Ele sabe que a frustração daquele 3 de agosto o fizeram um piloto melhor, um homem melhor. Felipe Massa agradece a experiência.

3 comentários:

  1. "Ele sabe que a frustração daquele 3 de agosto o fizeram um piloto melhor, um homem melhor. Felipe Massa agradece a experiência."

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  2. Ao longo de nossa vida inúmeros caminhos se apresentam.
    Somos induzidos a escolher, ou, escolhemos depois de muito pensar, ou são inevitáveis.
    Depois de algum tempo pensamos se outro caminho não teria sido melhor.
    Mas, após viver tudo e todo o que se apresentou e o que me presenteou a vida penso que o importante é exatamente isso.
    Viver.
    Se estivermos no caminho errado não cabe o desespero.
    Ali, depois de uma curva qualquer, tem outro caminho a ser avaliado.

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  3. baixou o santo na página.
    eu postei um comentário e saiu no nome da Mari.
    Tá certo que ela é onipresente, mas....
    o segundo comentário é meu.

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